Fazia um bom tempo que não sentia nada parecido com o que
tem sentido. O coração acelerado e um frio imenso dominava-lhe o corpo. As
pernas tremiam. Não sentia fome, então, mexeu a comida de um lado para o outro
e largou o prato ali mesmo. Não era nada ruim. Olhava fixo para um recanto e
deixava escapar um sorriso. Depois, surgiam-lhe no pensamento algumas
impossibilidades. O sorriso já havia sido substituído por uma feição pensativa
e temerosa. Foi ao quarto e ouviu algumas músicas, voltou a sorrir, boba. Leu
bilhetes, teve boas lembranças. Encontrou algumas fotos, os seus olhos
brilhavam estonteantes. Pegou alguns livros e um deles chamou-lhe a atenção.
Sorteou na ponta dos dedos uma das páginas, leu alguns poemas e continuou a
sorrir. Deitou na cama e olhou para o teto, sem sequer piscar os olhos e
abraçou o livro. O tempo voou enquanto ela viajava no pensamento. Levantou-se,
arrumou a cama e apagou a luz. Deitou e dormiu, enquanto esperava o telefone
tocar, abraçou-se com o livro que permaneceu debaixo do travesseiro. Acordou de
madrugada, olhou para o telefone e não havia nada, então, pensou: 'eu ligo já',
nunca demorou tanto e nem foi tão parecido com 'não espere que eu ligue'. Mais
uma vez fixou a olhar no teto. Virou-se, buscou o livro abaixo do travesseiro,
suspirou e voltou a dormir.
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